quarta-feira, 15 de abril de 2009

Meu poema favorito


Tem sempre um aplauso embutido em mim quando eu releio isso.
Cântico negro

José Régio

"Vem por aqui" —

dizem-me alguns com os olhos doces

Estendendo-me os braços, e seguros

De que seria bom que eu os ouvisse

Quando me dizem: "vem por aqui!"

Eu olho-os com olhos lassos,(Há, nos olhos meus, ironias e cansaços)

E cruzo os braços, E nunca vou por ali...

A minha glória é esta:Criar desumanidades!

Não acompanhar ninguém.

— Que eu vivo com o mesmo sem-vontade

Com que rasguei o ventre à minha mãe

Não, não vou por aí! Só vou por onde

Me levam meus próprios passos...

Se ao que busco saber nenhum de vós responde

Por que me repetis: "vem por aqui!"?
Prefiro escorregar nos becos lamacentos,

Redemoinhar aos ventos,

Como farrapos, arrastar os pés sangrentos,

A ir por aí...Se vim ao mundo, foi

Só para desflorar florestas virgens,

E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada!

O mais que faço não vale nada.
Como, pois, sereis vós

Que me dareis impulsos, ferramentas e coragem

Para eu derrubar os meus obstáculos?

...Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós,

E vós amais o que é fácil!

Eu amo o Longe e a Miragem,

Amo os abismos, as torrentes, os desertos...
Ide! Tendes estradas,Tendes jardins, tendes canteiros,

Tendes pátria, tendes tetos, E tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios...

Eu tenho a minha Loucura !Levanto-a, como um facho, a arder na noite escura,

E sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios...

Deus e o Diabo é que guiam, mais ninguém!

Todos tiveram pai, todos tiveram mãe;

Mas eu, que nunca principio nem acabo,

Nasci do amor que há entre Deus e o Diabo.
Ah, que ninguém me dê piedosas intenções,

Ninguém me peça definições!Ninguém me diga: "vem por aqui"!

A minha vida é um vendaval que se soltou,

É uma onda que se alevantou,

É um átomo a mais que se animou...

Não sei por onde vou, Não sei para onde vou

Sei que não vou por aí!


terça-feira, 7 de abril de 2009

Sonho Estranho!!!













Estou lendo novamente Holding e interpretação do Winnicott. Ontem li tanto que acabei sonhando com um monte de coisas estranhas no meio da noite e no começo da manhã. Sei lá se são realmente coisas estranhas. Provavelmente não. O paciente do Winnicott, no livro, relata diversos sonhos esquisitíssimos no meio das suas sessões e de fato isso me chamou atenção. Agora, de que lugar eu tirei um bolo de chocolate no forno crescendo por conta do fermento?? Na verdade eram vários bolos e tortas salgadas crescendo no forno por causa de um tal de fermento. Eu acordei no meio da noite e pensei: preciso fazer um bolo agora. Só que eu não tinha forma de bolo, ainda não temos formas de bolo aqui em casa. E lógico, eu não tinha os ingredientes nem muito menos fermento. Precisamos providenciar. Em resumo, fiquei meio acordada com a idéia de fazer um bolo ou uma torta sei lá. Mas, eram 3:48 da manhã e eu precisava dormir, virei de um lado e de outro e depois de uns 20 minutos acho, dormi de novo. Pela manhã, bem cedinho, sonhei que estava em uma praia que eu não conheço. A faixa de areia era pequena, eu me lembro de umas pedras grandes. Como essas da foto. Na praia, poucas pessoas: Minha mãe, minha avó e um moço. Como estavam do outro lado da praia eu tinha que tentar chegar mais perto das pedras pra poder falar com a minha mãe e a minha avó, só que eu não conseguia chegar porque parecia hipoglicêmica, ou bêbada, ou fraca. Eu rastejava na areia da praia pra chegar do outro lado, mas não conseguia. Rastejando, consegui chegar nas pedras e aí encontrei o moço que me fez várias perguntas sobre a minha vida, tipo: O que eu estava fazendo, em que eu estava trabalhando, com quem eu estava namorando, se eu estava feliz, essas coisas. Eu não me lembro se eu respondi todas as perguntas, mas eu consegui caminhar com dificuldade até o outro lado pra falar com as duas. Só que quando eu cheguei lá, elas saíram correndo. A minha avó estava linda, seu semblante era muito bonito e ela estava correndo, isso mesmo, correndo muito bem. Agitada, eu falei: Vó, espera, não corre.
Acordei.