sábado, 29 de maio de 2010

Quando chega


Esperar pode parecer um martírio, um verdadeiro saco para os mais ansiosos, um tormento para os mais angustiados, um inferno intenso para os mais irritados. Mas se desse pra perceber antes que o melhor de tudo é esse mistério da espera,do que está pra vir, essa pressa pra que aconteça logo tudo, a expectativa, os planos e as promessas. Se nós soubessemos, se eu soubesse, se quisesse saber... talvez tudo fosse um pouco mais divertido do que essa paz que resolve imperar quando o dia que chega, termina.Quando o que é muito se torna pouco pra depois transformar novas vibrações em novas esperas ansiosas, angustiantes e irritantes...um passo para o martírio, dois passos pra toda essa ânsia de aproveitar tudo e beber até o último gole daquela água.
Meu corpo está calmo, meus pensamentos meio parados, até quando?

sexta-feira, 7 de maio de 2010

Férias de mim


Estive pensando se uma hora qualquer posso tirar férias, férias de mim.Ando muito cansada, meio esgotada de tantas características que não se descolam de mim. Cheia dos argumentos que sempre utilizo, das vezes que uso a palavra sim ou não.É muito difícil ser eu mesma todos os dias, até porque eu mudo de idéia com muita facilidade, subo as escadas muito depressa e depois quero descer. Emagreço e depois engordo tudo de novo. Mesmo sendo vários eus, é chatinho. Já pensou?Um dia eu quero e no outro não, uma hora eu me importo com as questões sociais do mundo e no outro dia não quero nem levantar da cama. Um dia geniosa, outro ingênua, outro louca, outro sã. Afffff...cansa a pele, desgasta a sola do sapato, desfaz as idealizações, e as questões que surgem? Quem aguenta meu Deus?Preciso tirar férias de mim.

quinta-feira, 6 de maio de 2010

Filha de nomes compostos


Eu sou filha de nomes compostos: José Arthur e Maria Laura. Mas meu nome é Alice sozinha mesmo. Tenho tradição pelos nomes compostos, fora meus pais, todos os meus tios e tias também os possuem. Eu podia ignorar a história dos nomes, mas não posso. Amo psicanálise e sou fanática por coisas do inconsciente. Eu me chamo só Alice, mas quero que meus filhos tenham nomes compostos, se um dia eu os tiver: É Maria alguma coisa e João alguma coisa, ou José alguma coisa. O nome da mulher do meu irmão é Alessandra Helena, mas do meu irmão é só Marcos mesmo. Mas eu fiquei pensando se ele também tem uma questão por nomes compostos, será?Sei lá, o meu namorado tem nome simples, mas gosta da idéia de poder dar dois nomes para os nossos filhos imaginários. A propósito, meu namorado se chama Miguell, com duas letras L no nome. Mas a questão é que há um tempo atrás namorei um Miguel com um L só, e namorei um tempão. Estranho para os outros, pra mim mim é tão inconsciente, desejado. Coincidência serve para os outros com nomes simples e compostos, pra mim está tudo dentro e de acordo...sempre. Continuando com a minha tradição de nomes compostos eu acho muito louca essa história do meu gosto por nomes na possibilidade de conseguir usar dois nomes lindos constituindo uma mesma pessoa.É incrível.

sábado, 24 de abril de 2010

Gatos amarelos




Ter um gato é estar preparado para lidar com o seu próprio ego(clichê), mas e ter dois ou mais?Tenho pensado nisso e acho que talvez ter dois ou mais gatos seja se entregar e cair dentro de um mundo estranho e desgovernado construído por nós mesmos. Veja bem como as coisas funcionam aqui em casa, tenho que berrar várias vezes pela casa assim: Quem manda aqui sou eu!!!!Até pareço louca, mas eles não querem entender que existe alguém que manda na casa, que existe alguém dono daquela imensa cama arrumada que eles pensam que foi feita pra eles, eles não compreendem que o sofá da sala é para visitas, ou que meu almoço ou lanche é meu. Meus gatos amarelos sofrem do mesmo mal que eu, são introspectivos, independentes, gulosos, persistentes, preguiçosos, careeentes... na maioria das vezes eu me enxergo neles. Estive pensando:Só posso usufruir do carinho deles se eu me acalmar, isso mesmo, quando eu chego toda agitada, de porre, estressada, cheia de coisas na cabeça...nada deles quererem sentar no meu colo, mas bastou eu tomar banho, relaxar, pegar um livro ou sentar em frente a tv, pronto!Lá vem eles com seu rabo longo se enroscando em mim como se eu fosse a própria fêmea deles, sim os dois são machinhos, bem...pelo menos foi o que eu pensei quando os peguei para adoção, logo mais quando a veterinária nos visitou para dar a vacina, veio a notícia: Miltinho, meu gato mais dengoso não tem testículos, ou seja ele é hermafrodita, meu dengoso é meio macho meio fêmea. E Geninho? Meu gato mais cuidadoso, tímido com seu miado rouco que eu achava tão charmoso... é asmático...sim meus gatos amarelos tem esses probleminhas diferentes...mas eu amo essas pequenas coisas e amo que eles estejam comigo, me acompanhando com seus miados diferentes, com essa beleza intransponível, essas atitudes tão diversas...estou agora sempre munida de histórias pra contar...histórias que eu aprendo com eles e levo pra análise, minha catarse absoluta.

sexta-feira, 9 de abril de 2010

Movimento: o corpo e a clínica

Uma tese muito bacana que eu encontrei quando procurava material para minha monografia da pós, com fonte segura e orientação de Joel Birman. Vale a pena ler.
É um estudo do corpo em sua qualidade sensível, buscando evidenciar que é sobre este que incidem as formas de dominação contemporâneas na medida em que o corpo vem sofrendo, na atualidade, um processo de anestesiamento em seu campo intensivo, seja por uma sobre-excitação da sensação ou, ao contrário, pelo seu apagamento. Tal anestesiamento decorre dos novos modos de subjetivação contemporâneos em que a vida se tornou o lócus privilegiado das intervenções dos poderes. O corpo entediado, esvaziado de suas forças singulares produtivas, tem sido resultante da complexa rede de ingerências a que tem sido exposto.

http://bases.bireme.br/cgi-bin/wxislind.exe/iah/online/?IsisScript=iah/iah.xis&src=google&base=LILACS&lang=p&nextAction=lnk&exprSearch=517635&indexSearch=ID

Acabei


Acabei de ser feliz, de pensar em você,
acabei de entender Melanie Klein, acabei de esquecer,
acabei de sofrer com as minhas críticas, quais eram?
Acabei de repetir os mesmos erros, já consertei.
Acabei de chorar sem motivo, agora os tenho,
acabei de ouvir músicas, lembrei,
acabei de deixar de lado as preocupações, acabei de chamá-las pra perto de mim.
acabei de tentar, frustei, consegui.
acabei de enjoar de mim mesma, continuo........

sexta-feira, 5 de março de 2010

Alice no País das maravilhas


"Então, ela pensava consigo mesma (tão bem quanto era possível naquele dia quente que a deixava sonolenta e estúpida) se o prazer de fazer um colar de margaridas era mais forte do que o esforço de ter de levantar e colher as margaridas, quando subitamente um Coelho Branco com olhos cor-de-rosa passou correndo perto dela."

Naquela mesa


Naquela mesa ele sentava sempre
E me dizia sempre o que é viver melhor
Naquela mesa ele contava histórias
Que hoje na memória eu guardo e sei de cor
Naquela mesa ele juntava gente
E contava contente o que fez de manhã
E nos seus olhos era tanto brilho
Que mais que seu filho
Eu fiquei seu fã
Eu não sabia que doía tanto
Uma mesa num canto, uma casa e um jardim
Se eu soubesse o quanto dói a vida
Essa dor tão doída, não doía assim
Agora resta uma mesa na sala
E hoje ninguém mais fala do seu bandolim
Naquela mesa ta faltando ele
E a saudade dele ta doendo em mim
Naquela mesa ta faltando ele
E a saudade dele ta doendo em mim
Naquela Mesa
(Nelson Gonçalves)
Composição: Sérgio Bittencourt

Paro ou continuo a andar depressa para esquecer?


O silêncio existe.
Ele é oriundo da paz ou da falta. Mas enquanto a paz ainda não me pertence, a falta.
Falta do cheiro, voz, gargalhada, oração, presença.
Sim o silêncio que existe no meio do turbilhão da rotina, nos carros que buzinam, na música que teima em tocar alta, na televisão com todos aqueles canais incríveis, nas conversas com os amigos tomando cerveja. O silêncio existe no meio das novidades, acontecimentos, surpresas.

Existe e persiste tanto que me deixa um pouco confusa, preciso de barulho?Preciso andar depressa?
Nostalgia, revivo o que passou ou o que nem chegou a acontecer, mergulho, enterro, caio, levanto, viajo em oportunas idealizações.

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Terapia dos gatos


Mais conhecida como massagem capilar a psicogatoterapia melhora qualquer estado de humor, acaba com o estresse do cotidiano e tira as rugas de preocupação.Eles podem parecer ariscos, mau-humorados, interesseiros pela boca de quem nunca teve se quer um gatinho em casa. Pra quem tem essa sorte e lida diariamente com suas características de personalidade, é uma grande terapia.

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Do que é que eu preciso?


Quando o silêncio e a ausência se instalaram pelos arredores dos meus pensamentos achei que não poderia me divertir tão cedo, sentir prazer tão rápido e inúmeras vezes, rir tão alto, cantarolar músicas pela casa, me sentir confortável e correr sem freios para o que as mudanças me permitissem.
Achei que os passos fossem lentos, que o tempo se arrastasse, que as palavras falhassem, que a inspiração fosse dada como "em falta", que as histórias perdessem a graça, que as comédias virassem apenas ironias, que o sentido das coisas fosse alterado.
A saudade e a ausência são devastadoras e impertinentes, são indescritíveis e imensuráveis, são complicadas. E não existe espaço pra correr, nem o que dizer, nem o que querer, nem o que fazer, porque simplesmente falta. Seria melhor sentar e esperar, seria melhor sofrer, seria mais fácil querer?
Pensei nas distrações, convivemos com inúmeras, pensei em fugir, mas eu mal comecei a tolerar, eu mal comecei a amadurecer, a crescer, a inventar saídas, plantar meu jardim, cuidar dos meus gatos e de mim mesma.
Eu ainda não sou inteira, eu ainda não posso sair de mim, nem mesmo me proteger do que me traz medo, angústia,tristeza e solidão.
Eu ainda não posso, eu ainda não sei o que escrever, o que dizer, o que sentir, mas estou aqui. E partindo da minha presença, das minhas fugas, dos meus ensaios e da minha ignorância, revelo minhas fragilidades. Ninguém sabe sofrer, nunca existiu uma escola de superação de dor, de pesar, nunca houve um médico, um psicólogo, um psiquiatra que pudessem confortar, que trouxessem em sua bolsa soluções que amenizassem a perda e a saudade. Talvez eles nem tenham essa pretensão mesmo.
Eu fico com o tempo que passa depressa, que atravessa meus dias sem me dominar, sem que eu o controle.Eu fico com o resgate das tradições que me amarram e me fazem pertencer a alguma coisa.

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Pânico


UNHAS DO INCONSCIENTE
Num final de tarde, poucos anos atrás, eu mergulhei na escuridão. Estava
nos estúdios da emissora onde trabalho quando percebi a realidade se
afastando de mim. Nada havia acontecido de especial naquele dia, nenhuma
chateação além das habituais, minhas cenas tinham sido gravadas
regularmente, e era hora de voltar pra casa. Só que no momento de partir,
eu não conseguia fazer os movimentos corriqueiros para livrar-me do figurino
do personagem, colocar minhas roupas pessoais, pegar o carro, e sair dali.
Num esforço descomunal, e contando com algumas poucas fagulhas de
racionalidade, dei conta de arranjar um motorista que me levasse, deixando
meu próprio carro pra ser resgatado quando o mundo retornasse ao eixo. Por
sorte, o rapaz era quase mudo ou muito sensível e percebeu que o momento não
era pra conversas - perguntou apenas pelo endereço e tocou na direção.
Assim, por uma hora dentro daquele carro, fui mergulhando cada vez mais
fundo nos abismos turbulentos de um universo que me engolfava rápida e
violentamente. Quando cheguei em casa, cem anos depois, tudo estava escuro,
não havia alma, nem o cachorro estava ali pra me lamber a inquietação. Mal
conseguia andar.
Cambaleando, acendi uma luz no último quarto - único interruptor que
encontrei - fui ao telefone, e numa provação olímpica consegui discar pra
meu ex-marido. A cozinheira que fora nossa e agora trabalhava para ele
atendeu e percebeu que algo sinistro acontecia - apesar de mim, porque eu
não dizia coisa com nexo. A moça chorou do outro lado e desligou,
mas fiquei com a impressão de que ia me ajudar... Em outro soberano
esforço, me veio o número de uma amiga: "estou caindo da vida, vem me
salvar". Eu me enredava no mistério abissal e não havia ninguém pra me
trazer de volta - a solidão era paralisante. Tinha vergonha de mim, sentia
raiva, estava do outro lado de todas as fronteiras, mas a brutalidade de um
comando inconsciente me punha frágil e incapaz de escolher um caminho para
territórios mais estáveis. Olhei uma pessoa no espelho, não reconheci,
andei, respirei, rezei, deitei, gritei, andei, rezei, respirei, rezei...
Quando finalmente chegaram meus amigos, todos de uma vez, eu já voltava a
mim e ninguém parecia compreender que a loucura acabara de me visitar para
acompanhar-me ao mundo de lá. Tentei explicar mas, extenuada, não consegui.
O marido de minha amiga, que era espírita, me deu um passe. Meu ex-marido,
que era preocupado, me deu um pito, minha amiga que é esplêndida me deu um
abraço, e no final, rimos todos aliviados.
O que passou, compreendi depois, foi algo bastante comum que chamam de
ataque de ansiedade ou de pânico, e foi dos maiores medos de minha vida.
Jurei naquela hora, que jamais me permitiria outro momento semelhante, e até
hoje, benzadeus, não descumpri o combinado. Já havia tido, com o uso de
drogas, experiências de atravessar fronteiras para espiar o lado de lá, mas
nunca a loucura me havia batido à porta assim, a luz do dia, sem que eu a
provocasse.
A loucura permanente ou episódica dói terrivelmente, e isola do convívio com
outro. Por outro lado, ela descortina um universo caleidoscópico e
intangível para os normais. O matemático John Nash, que inspirou o filme
Uma Mente Brilhante, sofreu anos de alucinações fantasmagóricas e, com com grande esforço intelectual, aprendeu a driblar sombras paranóides. Em sua
autobiografia, ele diz: "Parece que estou pensando racionalmente de novo,
com fazem os cientistas". Mas ele acrescenta logo adiante: "Isto não é uma
coisa que me deixe totalmente alegre, como aconteceria no caso de ter estado
doente fisicamente e recuperado a saúde. Porque a racionalidade de
pensamento impõe um limite no conceito cósmico que a pessoa tem".
Se a gente nunca olhar pra fora dos muros da nossa cultura, de nossas
convenções, se não procurarmos territórios desconhecidos para adentrar o
ilimitado, também não conheceremos o paraíso na terra. Hoje, quando me
acontecem momentos de medo e que me vejo de novo presa nas unhas do
inconsciente, reencontro-me depois, quase agradecida. Aprendi a não ter
medo de sentir medo. Aprendi que a vida tem disso, e que se a gente se
deixa vagar um pouco pela escuridão sem pressa e sem atrapalhar, logo se
passa dali. E que depois das sombras existe o reino da imaginação onde vive
toda liberdade. E que ali mesmo dentro da gente, é onde nasce a luz de
sabedoria que ilumina e faz mexer o universo.
Maitê Proença, 2004