quinta-feira, 31 de dezembro de 2009
À procura do Natal
Caminharei em busca do presépio
a noite inteira, meu Senhor
Não haverá, porém, nenhuma estrela,
para guiar meus passos.
Todas as estrelas estarão imóveis
no céu imóvel.
Caminharei em busca do presépio,
a noite inteira, meu Senhor.
As estradas, porém, estarão solitárias,
tudo estará adormecido,
as luzes das casas, apagadas,
as vozes dos peregrinos terão morrido
na distância sem fim.
Caminharei ansioso à tua procura,
mas estarei tão atrasado,
o tempo terá caminhado tão na minha frente,
que me será difícil teu recanto humilde...
Cansado,encontrarei grandes cidades,
mas a tua cidade,Senhor, terá desaparecido...
Muitos se rirão de mim, sabendo que te procuro.
Não haverá nenhuma estrela
para mostrar o lugar em que te encontras.
Todas as estrelas estarão imóveis no céu...
Autor:Augusto Frederico Schmidt(1906-1965)/extraído do livro: As mais belas orações de todos os tempos.
sexta-feira, 11 de dezembro de 2009
Fim de ano
Eu tenho uma preferência insuportável pelo fim de ano. Normalmente fico mais generosa, faço planos e tenho certezas absolutas... e redundantes claro. Rezo mais, sinto mais, invento mais. Acredito em grandes novidades, me informo sobre o tempo, saio da prisão que crio em mim todo ano. Eu gosto das luzes de Natal, do presépio, das canções e das pessoas que circulam freneticamente pelas ruas apressadas, entusiasmadas, felizes, nostálgicas.Eu realmente fico fascinada pelas datas festivas, pelo barulho,pela comida,pelo cheiro das coisas guardadas, novas. Sinto tantas saudades dos finais de ano que eu nem vi passar, só passaram por mim sem que eu percebesse. Fé, nessa época eu tenho mais fé, não aquela fragmentada pelos contrapontos que nos abastecem ao longo dos dias, mas aquela fé inteira, fiel. Meu corpo fica mais sensível, pesado e leve ao mesmo tempo, preocupado, mas alegre. A esperança deixa de ser miserável e se refaz com as intuições presentes, com os desejos que se misturam com as chuvas que teimam em cair no mês de dezembro, nem isso atrapalha. Nem faz com que os sentimentos fiquem impacientes e se desgastem, são só alguns dias para aproveitar. Eu nada mais faço: Aproveito esses dias que não se arrastam, mas se agarram a mim exageradamente.
quarta-feira, 25 de novembro de 2009
Clarice
"Eu escrevo sem esperança de que o que eu escrevo altere qualquer coisa. Não altera em nada... Porque no fundo a gente não está querendo alterar as coisas. A gente está querendo desabrochar de um modo ou de outro..."
Clarice Lispector
"O eu que Clarice Lispector persegue não é um que se encontra trancafiado em
sua individualidade, e, sim, um eu que se abre em possibilidades de dialogar como o
outro, que se dispersa e se metamorfoseia. Interessa-lhe investir no que se abriga na
caverna, no interior de cada um, justamente, por suspeitar da inexistência de uma
identidade pronta e definida, concebendo-a como algo que se instala fragilmente,
num ritmo de movência, de espraiamento que se constrói e se desconstrói a cada
instante-já, deixando vislumbrar um eu despedaçado e em fragmentação".
Escrito por Fernanda de Souza Teixeira em seu trabalho sobre:A FRAGMENTAÇÃO DO EU, uma leitura delicada sobre a obra Clarice Lispector.
sábado, 21 de novembro de 2009
Lembrei
Lembrei de me esquecer a tempo
Perdi meus maiores achados
Odiei por amor
Utilizei coisas inúteis
Paguei caro por prazeres baratos
Desafiei a lâmina afiada
Enterrei um sapo no terreiro
Quis não ter querer
Tentei não cair em tentação
Mas livrei-me dos livros
Pois eles não me livraram.
(Mauricio Baia/ Gabriel Moura)
http://www.youtube.com/watch?v=RSEsFtiDoLM
sexta-feira, 23 de outubro de 2009
Leitura obrigatória para nossa ansiedade de informação:
O Prazer de Ler: Sobre Leitura e Burrice
Enquanto vão lendo não pensam. Os eruditos gastam todas as suas energias dizendo Sim e Não na crítica daquilo que outros pensaram - eles mesmos não tem mais a capacidade de pensar. Vi com meus próprios olhos: pessoas bem-dotadas e com liberdade de espírito que, aos trinta anos, já haviam lido a ponto de se arruinar..." É um equívoco imaginar que a quantidade de livros lidos desenvolve a capacidade de pensar. Comida ingerida em grande quantidade prova perturbações digestivas ou obesidade. Eruditos, com freqüência, são obesos de espírito. Livros lidos em grande quantidade provocam perturbações no pensamento. Borges, numa conferência sobre "O livro", cita Sêneca, quem censura o dono de uma biblioteca de cem livros. "Quem", ele pergunta, "é capaz de ler cem livros?" Nietzsche, no mesmo espírito, diz que ele se contentava em ler poucos livros. E acrescenta: "Uma sala de leitura (salas enormes, nas bibliotecas, onde se vai ler) me deixa doente". Pelo que conheço das práticas escolares, esse é o resultado das leituras, nas escolas. Os alunos aprendem que as coisas importantes estão escritas em livros, e com isso eles são desencorajados de pensar seus próprios pensamentos. Pesquisar é fazer resumos dos artigos da Barsa. Num trabalho acadêmico, tudo o que o aluno diz tem de ser confirmado por aquilo que outro disse num livro - um nome e uma data entre parênteses. Os alunos terminam por pensar que a educação é parar de pensar seus próprios pensamentos e pensar os pensamentos de outros - pelos quais eles não têm o menor interesse. Valendo-me das metáforas culinárias, atrevo-me a dizer, com freqüência, as chamadas avaliações escolares (as provinhas) são ocasiões pós-refeição em que provocam vômitos intelectuais nos alunos, para verificar se o vomitado é idêntico ao que foi engolido. Eu me alimento de alguns livros diariamente: eles podem ser maravilhosos. Mas é preciso que sejam comidos com prazer para fazer bem à inteligência. E note que "prazer" não quer dizer "facilidade". Existe um prazer imenso em escalar uma montanha...Livros comidos com prazer são livros a serem ruminados pelo resto da vida. Livros não-ruminados são livros esquecidos. Não entraram no sangue, não viraram carne. Mas ruminação é virtude que se deve aprender com as vacas. Rumina-se num tempo de vagabundagem, de paciência e pachorra, tempo quando não se pasta. Mas essas são virtudes que os educadores não conseguiram incluir em suas pedagogias e psicologias.
Texto extraído do livro "Entre a Ciência e a Sapiência: O Dilema da Educação", de
Rubem Alves, Ed. Loyola.
O fim é lindo
Fabrício Carpinejar
Minha casa é estranhamente regulada. Quando uma lâmpada queima, as outras vão junto. É um boicote que aumenta em minutos para testar a paciência. O gás da cozinha falta bem no momento da janta, e logo de madrugada, com o objetivo de me constranger ao telefone com uma lista infindável de entregadores. Se o computador estraga, o chuveiro também e o microondas sofre problemas de circuito. Confio que os aparelhos se imitam e conversam entre si. Devem reivindicar melhores condições de trabalho e uso, cobrar insalubridade, ou estão cansados das extensões e da sobrecarga indevidas. O certo é que minha casa é grevista. Insurgente. Nunca acontece de algo quebrar isoladamente.
Cheguei a minha residência depois de uma série de viagens. E mal acendi a luz, puf, puf, puf. Meu dedo estalou em cada interruptor. Teve até choque. Foi patético, para não dizer desanimador. Corredores mexendo as sombras, as paredes escorrendo a cegueira.
Mas, um pouco antes de explodirem, as lâmpadas aumentaram sua fosforescência. Puxaram todo o resto de força para refulgirem a extinção. Estenderam seus aros como nunca antes, com a potência de um refletor.
O mesmo ocorreu com o gás de cozinha, a chama das bocas subiu com perigosa curiosidade. Poderia ouvir o fogo gemer. Ele escurecia as bordas das panelas com sua assinatura. Quase formava os dedos de uma mão.
Conclui que o fim é lindo.
Assim como as luzes da casa e do fogão, o amor perto do desastre não se economiza. Não mais se contém. É desesperadamente transparente.
Um casal diante do fim terá a grande noite de sua vida por não prever uma próxima. Sairá do esconderijo porque não se vê mais seguro. Mostrará do que é capaz. Queimará o que guardou, não fará mais nenhum jogo, esquecerá a sedução e os conselhos dos amigos. Mais intensidade do que intenção.
É o escândalo da verdade. Tímidos se transformam em terroristas, calmos ficam enervados, pacientes se portam como histéricos. Por um instante, não há medo de fazer as propostas mais desvairadas, confessar palavras reprimidas, estender os olhos como um lençol limpo.
O fim é lindo. Do crepúsculo, de uma vela, de uma chuva. O fim é esperançoso, exigente. Pancadas de beleza. O som e o sol pulam como um suicida ao avesso para dentro da vida.
quarta-feira, 14 de outubro de 2009
Violetas
"Flores à mostra e música.
Prosa.
Doce e sal.
Dor e gozo.
Aconchego... só vestígios,
Consolo, preciso de recanto.
Ficar ou ir?
Cair.
Desatino ou piedade?
Coragem.
O corpo me abandona a cada dia.
E qual é o lugar do meu alívio?
Escolhas, pensamentos impróprios.
Caos, me tirem daqui!
Eu preciso ir agora.
Já é tarde e sinto frio,
Pra vocês é cedo e ainda faz calor.
Permitam que eu me retire.
Esgotei minhas reservas,
Não há mais nada que eu ou você possamos fazer.
Estou de partida,
Preciso que me beijem, que me aceitem, que me apertem!
Eu preciso me sentir pela última vez.
O toque das suas mãos, o calor do seu corpo, o som da sua voz.
Desfaleço."
terça-feira, 6 de outubro de 2009
A Clínica do Trágico
http://www.cpflcultura.com.br/video/integra-clinica-do-tragico
sábado, 3 de outubro de 2009
Peito vazio (Cartola)
"Nada consigo fazer
Quando a saudade aperta
Foge-me a inspiração
Sinto a alma deserta
Um vazio se faz em meu peito
E de fato eu sinto
Em meu peito um vazio
Me faltando as tuas carícias
As noites são longas
E eu sinto mais frio.
Procuro afogar no álcool
A tua lembrança
Mas noto que é ridícula
A minha vingança
Vou seguir os conselhos
De amigos
E garanto que não beberei
Nunca mais
E com o tempo
Essa imensa saudade que sinto
Se esvai"
Quando ouço a música, encontro um espaço para a angústia e o vazio persistentes.
domingo, 6 de setembro de 2009
Juntando os cacos
Considero a habilidade artística muito interessante, existe uma harmonia de movimentos, uma paciência e um cuidado fora do real. Infelizmente não nasci com nenhum dom artístico nem tenho vontade de entrar para o grupo das oficinas, dos ateliês da vida. Hoje digo pra mim mesma: Isso não é pra você, relaxe. Porque de certa forma dá uma vontade às vezes de tocar piano, pintar um quadro, jogar vôlei, construir painéis, essas coisas incríveis que as pessoas fazem por aí. E aí o que me acontece é pensar no que eu faço que reproduza e me convença de que eu também posso fazer coisas tão interessantes quanto. Conviver com os mosaicos do Marcello, toda hora aqui em casa me rende esses pensamentos. Pra quem nunca viu como se faz um mosaico, é só pensar em um azulejo qualquer quebrado, um desenho pensado, muita habilidade pra imaginar e modelar em cima de qualquer superfície, uma boa quantidade de rejunte e o resultado é que sempre fica bonito no final.E eu me pergunto o grau terapêutico que isso tem. Ou seja você quebra um azulejo perfeito e conserta fazendo mosaico, insano? Nada, eu faço isso em análise, sempre a imaginar situações, consertar, elaborar de várias maneiras. E o rejunte? O rejunte talvez seja a capacidade e a permissão que eu eu dou para a minha analista entrar nas minhas histórias, intervir na minha impossibilidade e incapacidade de percepção. Eu quase enlouqueci agora, preciso de um minuto, ou três horas pra saber porque escrevo essas coisas. Estou juntando os meus cacos.
sexta-feira, 28 de agosto de 2009
Encontro
Sempre tive muitas idéias circulando na minha cabeça. Costumava ficar cansada, vazia, perdida, esquecida, enlouquecida, entre outras características indescritíveis.
No entanto,desde que iniciei meu trabalho com crianças tenho refletido um pouco mais sobre esses pensamentos invasivos e o impressionante é que por esse contato minhas teorias às vezes batem, minhas idéias em alguns segundos se cruzam, e tudo faz tanto mais tanto sentido em um rápido instante, que eu me encontro, eu me acho no lugar distante, eu refaço, preencho, ganho energia. É tocante como o encontro afetivo é intenso e sincero. Como as crianças te aceitam rápido. A relação flui tão facilmente que eu me esqueço de pensar contra mim, de lutar contra o meu corpo, de apagar a idéia nova. Eu me esqueço de fingir, de atuar, de questionar o que não tem explicação. Tudo tão simples.
quarta-feira, 12 de agosto de 2009
O manejo do Bonsai e a sinestesia, uma prática psicomotora?
segunda-feira, 27 de julho de 2009
Limão Galego
quinta-feira, 2 de julho de 2009
Diabulimia
segunda-feira, 8 de junho de 2009
Um encontro crônico.
segunda-feira, 18 de maio de 2009
Minha santa ignorância.
A partida
"Hoje, revendo minhas atitudes quando vim embora, reconheço que mudei bastante. Verifico também que estava aflito e que havia um fundo de mágoa ou desespero em minha impaciência. Eu queria deixar minha casa, minha avó e seus cuidados. Estava farto de chegar a horas certas, de ouvir reclamações; de ser vigiado, contemplado, querido. Sim, também a afeição de minha avó incomodava-me. Era quase palpável, quase como um objeto, uma túnica, um paletó justo que eu não pudesse despir.
Ela vivia a comprar-me remédios, a censurar minha falta de modos, a olhar-me, a repetir conselhos que eu já sabia de cor. Era boa demais, intoleravelmente boa e amorosa e justa.
Na véspera da viagem, enquanto eu a ajudava a arrumar as coisas na maleta, pensava que no dia seguinte estaria livre e imaginava o amplo mundo no qual iria desafogar-me: passeios, domingos sem missa, trabalho em vez de livros, mulheres nas praias, caras novas. Como tudo era fascinante! Que viesse logo. Que as horas corressem e eu me encontrasse imediatamente na posse de todos esses bens que me aguardavam. Que as horas voassem, voassem!
Percebi que minha avó não me olhava. A princípio, achei inexplicável ela fizesse isso, pois costumava fitar-me, longamente, com uma ternura que incomodava. Tive raiva do que me parecia um capricho e, como represália, fui para a cama.
Deixei a luz acesa. Sentia não sei que prazer em contar as vigas do teto, em olhar para a lâmpada. Desejava que nenhuma dessas coisas me afetasse e irritava-me por começar a entender que não conseguiria afastar-me delas sem emoção.
Minha avó fechara a maleta e agora se movia, devagar, calada, fiel ao seu hábito de fazer arrumações tardias. A quietude da casa parecia triste e ficava mais nítida com os poucos ruídos aos quais me fixava: manso arrastar de chinelos, cuidadoso abrir e lento fechar de gavetas, o tique-taque do relógio, tilintar de talheres, de xícaras.
Por fim, ela veio ao meu quarto, curvou-se:
- Acordado?
Apanhou o lençol e ia cobrir-me (gostava disto, ainda hoje o faz quando a visito); mas pretextei calor, beijei sua mão enrugada e, antes que ela saísse, dei-lhe as costas.
Não consegui dormir. Continuava preso a outros rumores. E quando estes se esvaíam, indistintas imagens me acossavam. Edifícios imensos, opressivos, barulho de trens, luzes, tudo a afligir-me, persistente, desagradável - imagens de febre.
Sentei-me na cama, as têmporas batendo, o coração inchado, retendo uma alegria dolorosa, que mais parecia um anúncio de morte. As horas passavam, cantavam grilos, minha avó tossia e voltava-se no leito, as molas duras rangiam ao peso de seu corpo. A tosse passou, emudeceram as molas; ficaram só os grilos e os relógios. Deitei-me.
Passava de meia-noite quando a velha cama gemeu: minha avó levantava-se. Abriu de leve a porta de seu quarto, sempre de leve entrou no meu, veio chegando e ficou de pé junto a mim. Com que finalidade? - perguntava eu. Cobrir-me ainda? Repetir-me conselhos? Ouvi-a então soluçar e quase fui sacudido por um acesso de raiva. Ela estava olhando para mim e chorando como se eu fosse um cadáver - pensei. Mas eu não me parecia em nada com um morto, senão no estar deitado. Estava vivo, bem vivo, não ia morrer. Sentia-me a ponto de gritar. Que me deixasse em paz e fosse chorar longe, na sala, na cozinha, no quintal, mas longe de mim. Eu não estava morto.
Afinal, ela beijou-me a fronte e se afastou, abafando os soluços. Eu crispei as mãos nas grades de ferro da cama, sobre as quais apoiei a testa ardente. E adormeci.
Acordei pela madrugada. A princípio com tranqüilidade, e logo com obstinação, quis novamente dormir. Inútil, o sono esgotara-se. Com precaução, acendi um fósforo: passava das três. Restavam-me, portanto, menos de duas horas, pois o trem chegaria às cinco. Veio-me então o desejo de não passar nem uma hora mais naquela casa. Partir, sem dizer nada, deixar quanto antes minhas cadeias de disciplina e de amor.
Com receio de fazer barulho, dirigi-me à cozinha, lavei o rosto, os dentes, penteei-me e, voltando ao meu quarto, vesti-me. Calcei os sapatos, sentei-me um instante à beira da cama. Minha avó continuava dormindo. Deveria fugir ou falar com ela? Ora, algumas palavras... Que me custava acordá-la, dizer-lhe adeus?
Ela estava encolhida, pequenina, envolta numa coberta escura. Toquei-lhe no ombro, ela se moveu, descobriu-se. Quis levantar-se e eu procurei detê-la. Não era preciso, eu tomaria um café na estação. Esquecera de falar com um colega e, se fosse esperar, talvez não houvesse mais tempo. Ainda assim, levantou-se. Ralhava comigo por não tê-la despertado antes, acusava-se de ter dormido muito. Tentava sorrir.
Não sei por que motivo, retardei ainda a partida. Andei pela casa, cabisbaixo, à procura de objetos imaginários, enquanto ela me seguia, abrigada em sua coberta. Eu sabia que desejava beijar-me, prender-se a mim, e à simples idéia desses gestos, estremeci. Como seria se, na hora do adeus, ela chorasse?
Enfim, beijei sua mão, bati-lhe de leve na cabeça. Creio mesmo que lhe surpreendi um gesto de aproximação, decerto na esperança de um abraço final. Esquivei-me, apanhei a maleta e, ao fazê-lo, lancei um rápido olhar para a mesa (cuidadosamente posta para dois, com a humilde louça dos grandes dias e a velha toalha branca, bordada, que só se usava em nossos aniversários)..."
(“Os Cem Melhores Contos Brasileiros do Século”)
segunda-feira, 4 de maio de 2009
A águia que
flecha do seu desejo para além de si mesmo e a corda do seu
arco se esquecerá de como vibrar ... O tempo está chegando,
quando o homem não mais dará à luz de uma estrela.
O tempo do mais desprezível dos homens...” (Nietzsche)
Um dia apareceu por lá um homem que vivera nas montanhas e vira o vôo orgulhoso das águias.
-“Este é meu lugar”, ela respondeu. “Todo mundo sabe que galinhas vivem em galinheiros, comem milho, ciscam o chão, botam ovos e finalmente viram canja: nada se perde, utilidade total...”
- “De jeito nenhum. Águia volta alto. Eu nem sequer, voar sei.
- Pra dizer a verdade, nem quero. A altura me dá vertigens.
- É mais seguir andando, passo a passo.
E não houve argumento que mudasse a cabeça da águia esquecida. Até que o homem, não agüentando mais ver aquela coisa triste, uma águia transformada em galinha, agarrou a águia à força, e a levou até o alto de uma montanha. A pobre águia começou a cacarejar de terror, mas o homem não teve compaixão; jogou-a no vazio do abismo. Foi então que o pavor, misturado a memórias que ainda moravam em seu corpo, fez as asas baterem,a princípio em pânico, mas pouco a pouco com tranqüila dignidade, até se abrirem confiantes, reconhecendo aquele espaço imenso que lhe fora roubado. E ela finalmente compreendeu que seu nome não era galinha, mas águia... "
sexta-feira, 1 de maio de 2009
quarta-feira, 15 de abril de 2009
Meu poema favorito
Prefiro escorregar nos becos lamacentos,
Como, pois, sereis vós
Ide! Tendes estradas,Tendes jardins, tendes canteiros,
Ah, que ninguém me dê piedosas intenções,
terça-feira, 7 de abril de 2009
Sonho Estranho!!!
segunda-feira, 30 de março de 2009
Ninguém mais diz não sei
Se o cara fala isso no emprego, logo será encaminhado ao departamento pessoal e fichado no arquivo morto. Se ele diz para a esposa ou namorada, sugere que andou aprontando. Basta chegar em casa tarde da noite e a mínima indefinição transforma-se em suspeita de infidelidade. A regra é falar sem parar, mesmo quando o assunto não começou. Diálogos epilépticos, pulando freneticamente de temas, sem fim possível. Ou é uma época prodigiosa de gênios ou a maioria das pessoas está mentindo.
Houve um tempo em que se queria ser Napoleão no hospício e Pelé, Martha Rocha, Einstein e Fellini na vida. Hoje o desejo secreto de cada um é ser Google. As conversas giram em torno de referências e não de conteúdos. Encontra-se a informação, mas não se desenvolve o raciocínio para chegar até ela. O mais importante na matemática é o cálculo, nunca o resultado final. Fica-se atualmente satisfeito com o resultado e se envaidece de dizê-lo com rapidez, na ponta da língua. A velocidade tornou-se o objetivo primordial. A busca se encerra no próprio ato final antes de ter realmente começado. O que adianta uma herança que não é vivida?
Com a internet, orkut e céleres estruturas de informação, apesar de tantas virtudes comunicativas e de convivência que geraram, criou-se uma geração de palpiteiros, mais do que formadores de opinião. A vivência foi substituída pela vidência. Pior que enganar os outros é se enganar. Na verdade, dura verdade, a cultura não se adquire sem esforço, inquietações, ensaios e exercícios, vacilos e resistência. A memória não se dá bem com facilidades. A afetividade se desenvolve na dúvida, na absorção amadurada do raciocínio. Inteligência é também a humildade de se calar e de se retirar para estudar mais, ao contrário do que vem sendo alardeado aos quatro cantos do cérebro: de falar a todo momento para mostrar erudição. Ninguém mais leva tema para casa. Até as crianças estão ansiosas demais para escutar histórias e repetem "eu sei" no início delas. Não é um sintoma da pressa essa conversa fiada sem a devida contrapartida da lentidão de ouvir e aprender? A necessidade de aceitação social não estaria matando a honestidade da solidão?
Acredito que é o momento de preservar a ignorância, de instaurar uma "Renascença às avessas". Se a Renascença valorizou o homem completo, o Leonardo da Vinci, a multiplicidade dos talentos em um único indivíduo (pintor, inventor, fabulista, cientista, poeta, pensador), deve-se entusiasmar agora o "homem incompleto", insuficiente, que admite desconhecer temas e assuntos para não atrofiar sua curiosidade. Sem curiosidade, não há nem motivo para estar aqui lendo a Super ou este artigo.
Um teólogo das antigas, Nicolau de Cusa (1401-1464), elogiado por Giordano Bruno, escreveu um livro chamado Douta Ignorância, em que recomenda a conscientização do que não se aprendeu para saber mais. Quem não sabe vai atrás. Quem diz que sabe apenas se conforma em dizer que sabe. A sinceridade é a melhor forma de não sofrer para depois explicar o que o Google não listou. Viver já é uma pós-graduação e não admite fingimentos porque a vida não dá trégua para a imaginação ou fornece instruções de comissário de bordo. Exige o mais difícil sempre. Antes de um beijo, de um abraço, de uma despedida, não se recebe pausa para pensar o que fazer e escrever rascunhos. Não há tempo para raciocinar nem existe curso preparatório para viver — vive-se de cara.
O filósofo romeno E.M. Cioran, por exemplo, autor da obra Silogismos da Amargura, produziu breves apontamentos e retratos sobre a história das idéias. Ele era um apóstolo do pessimismo, mas alguns de seus textos mostram que pensar além das aparências também serve como bombinha para o pulmão, pois a realidade pode sufocar o talento e a criatividade."
Escrito por Fabrício Carpinejar
segunda-feira, 23 de março de 2009
Psicomotricidade
"Ter a possibilidade de mudar objetivos e ações, não se perdendo no rastro do desejo, mesmo que o caos ocorra, é permitir o exercício de reconstrução e organização de um corpo que não se abstém e muito menos se perpetua nas amarras do que lhe dá sentido e na relação com o seu próprio eu/não eu. Entre o ser/corpo e o estar/corpo, mediado pelo tempo que não pode ser sem o espaço, será, talvez, o lugar do encontro da unicidade do ser, enquanto que a falta de existência desse corpo, fora do tempo e do espaço, desse não ser, significa abdicar do sentido maior, do sentido da própria existência. A clareza e a possibilidade de viver essa mediação, se dá através da ação corporal, no espaço de liberdade, onde o corpo possa ser/estar, orientado por um espaço/tempo que lhe é próprio, permitindo expandir o quanto possa e, nessa expansão, negar-se a ser pequeno.
Nesse espaço expansivo e de ação, o objeto traz a representação, evoca o passado através do presente, e este por sua vez denuncia o futuro; a circularidade se faz presente, não no movimento do enclausuramento, mas na direção da espiral, e o desenvolvimento assim se faz na organização/reorganização. O objeto aqui deve ser entendido como o próprio corpo ou o corpo do outro ou objetos comuns, matéria com forma, que permitem por sua presença, a evocação de lembranças e representações advindas das redes perceptuais, dando sentido a ação e direção ao ato motor. "
quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009
Oswaldo Montenegro
Composição: Oswaldo Montenegro
quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009
terça-feira, 10 de fevereiro de 2009
Lembranças
Alguns conhecem como bolinho de chuva, outros simplesmente como bolinhos, pra mim, para os meus primos e para todos os 11 filhos da minha avó Laura: Prasta. Tem a prasta doce e a salgada. A salgada era acompanhada sempre com um café preto bem quentinho. Já a prasta doce tinha um recheio que nada mais era que um pouco da massa crua que ficava dentro. E esse recheio era super importante, todos queriam e só a minha avó sabia fazer. Inúmeros pedidos eram feitos, no verão, no inverno, não tinha um tempo ideal pra comer prasta. Diferente de tomar sorvete quando está muito calor. Para fazer a prasta era utilizada sempre a mesma tigela vermelha e sempre a mesma panela. Nunca vi diferente. Parecia até que era simpatia. Mas, bobagem. A minha avó não acreditava nessas coisas. E ainda não acredita! O cheiro era característico e trazia todos para o aconchego da cozinha ouvindo o barulho constante do exaustor. A minha avó nunca se incomodou em fazer aquela enorme quantidade de prastas. Meu Deus! Era muito bom!Tomar café da tarde na companhia da minha avó com as suas cantaroladas durante todo o processo: Os ingredientes, a massa mole batida sempre a mão, nunca em batedeira alguma. O óleo quente na panela. Que engordar que nada, era uma delícia! Ainda posso sentir o vento das tardes de prastas na casa da minha avó. Ventos bons. Ainda tiro os segredos culinários escondidos na memória de minha avó. Ahh tiro!
segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009
Colóquio Winnicott
Surpresas
Crônica sobre a minha irmã e as minhas transferências positivas.
Amor líquido
Programa de Educação em Diabetes e Obesidade da primeira à terceira idade
O DIABEST é um programa de Promoção de saúde e prevenção de doenças aplicado por uma equipe de profissionais.Atuamos em vários bairros do Rio de Janeiro com Workshops para leigos e para profissionais de saúde. Nossa sede situa-se num Shopping da Barra da Tijuca, Rio de Janeiro, onde utilizamos as dependências deste lindo local para execução de atividades práticas que imitam o cotidiano de nossos associados.O programa de Diabetes é baseado no MYD (Mastering Your Diabetes) adaptado do Diabetes Research Institute. Nosso planejamento de Oficinas semanais inclui grupos específicos.O DIABEST conta com apoio de empresas como a Johnson&johnson, entre outras, promovendo oficinas práticas e interativas de monitorização da glicemia, orientação alimentar, atividade física, Alcance do peso saudável , entre outras. Além de informações com temas atuais, realizamos eventos sociais e lúdicos como passeios, chás, e programas voltados exclusivamente pra crianças.Para profissionais de saúde promovemos Workshops de atualização como Bomba de Infusão subcutânea de Insulina, softwares e monitores de glicemia, Contagem de Carboidratos, Suporte educacional em clínicas e consultórios. O cadastro no site é gratuito. Informamos via e-mail a programação.Nossa equipe (Nutricionistas, educador físico, fisioterapeuta, psicólogos, enfermeira) realiza atendimentos individuais para associados e não associados. Não realizamos consultas médicas. Objetivo principal é complementar o atendimento clínico incentivando os participantes a executar corretamente as prescrições de seu médico , trazendo assim maior adesão e sucesso ao tratamento.O DIABEST foi criado para trazer para a família informação sobre saúde com conforto, segurança e qualidade de vida. Tudo isso com muito humor e prazer em estar junto.
Diabest-Centro de Educação em Diabetes e ObesidadeAvenida das Américas 700, loja 216 “G” - Barra da Tijuca - RJTel-83059965 / 3045-9544;
Antigas Crônicas Psicológicas baratas!
Panela de Feijão
Maria é uma doce menina que divide apartamento comigo há uns 6 meses. Na quinta-feira passada ela resolveu colocar para cozinhar em uma enorme panela: Feijão. quando pensou em fazê-lo pensou em seu namorado, às vezes ele vem jantar aqui em casa. Bom, a questão foi que ela fez o tal feijão, eles jantaram e a panela com a metade de todo aquele feijão ficou esquecida por dias em cima do fogão. Devido ao seu esquecimento, ativei a sua memória após aqueles dias suportando o cheiro que começou a se alastrar pela cozinha. Lembrei agora também que eu não mencionei que a Maria não gosta muito dos serviços domésticos, ou melhor qualquer coisa que mereça assim tipo de esforço físico tremendo. Então, quando a situação da panela de feijão ficou crítica mesmo e ela teve que colocar a mão na massa...ah, esqueci também de mencionar que a Maria também destesta coisas muito nojentas, tipo vômito, clara de ovo, gozo e tal. O fato foi que ela teve que colocar a mão na massa, jogar fora os caroços e o caldo de feijão estragado da panela. Pela sua descrição desse evento que era a mesma da minha imaginação ficou muito claro todo o seu sofrimento ao ter que colocar todos aqueles grãos podres com todo aquele caldo esverdeado e espesso dentro da lata de lixo. Na simples responsabilidade daquela ação o que prevaleceu foi apenas o seu repúdio e o seu nojo desmedido. Em seu relato absurdamente carregado de raiva até recordações familiares vieram à tona. As frases da sua cruel história eram: Eu não preciso lavar essa panela de feijão, nunca fiz isso na minha casa. Que ódio que eu tenho dessa panela de feijão, que ódio do meu namorado por ele querer jantar e eu ter que fazer feijão. Nunca mais faço feijão. O show foi grande e a raiva também. só vendo pra saber.
Bom, se você não entendeu esse deseperdício e a doce Maria ficando puta da vida por causa de um simples esquecimento de uma panela de feijão podre no fogão eu confesso que também fiquei meio chocada. Mas, resolvi pensar da seguinte forma e ouvir da seguinte maneira esse relato: É difícil direcionar a raiva quando não sabemos de onde ela vem. O mais fácil é elaborá-la e denominá-la: feijão.
quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009
Dia 05/02/2009 - Instituto Fernandes Figueira e a Santa Casa de Misericórdia
Evento contará com palestras sobre câncer de mama
A Santa Casa da Misericórdia do Rio de Janeiro, parceira do Instituto Fernandes Figueira (IFF/Fiocruz), realizará no dia 5 de fevereiro, a partir das 9 horas, um evento para exaltar os 100 anos de criação do Serviço de Radiologia da Santa Casa. O evento contará com palestras sobre o câncer de mama, discussões sobre as ações da Sociedade Brasileira de Mastologia, atividades para os médicos residentes e homenagens aos grandes incentivadores das campanhas de combate à doença. O auditório da Provedoria da Santa Casa Rio fica na Rua Santa Luzia, 206 – Castelo.
Programação:
9h - Abertura Dr Dahas Zarur – Provedor da Santa Casa da Misericórdia do Rio de Janeiro. Homenagem à atriz Cássia Kiss e homenagem póstuma aos professores Manuel Cymberknoh e Cláudio Kemp
10h – Palestra“O Câncer de Mama – Visão do Ministério da Saúde”Dr Luiz Santini - Diretor do Inca
Discussão: Dr Aldemir Soares - CBR Dr Carlos Ricardo Chagas – SBM
14hServiço de Radiologia Auditório A: Tutorial BI-RADS Prof Nestor de BarrosServiço de Radiologia Auditório B: O que e como ensinar o diagnóstico por imagem da mamaProf Hilton Augusto Koch
16h – EncerramentoProf Hilton Augusto Koch
terça-feira, 3 de fevereiro de 2009
Bons textos em boas fontes
http://portalteses.icict.fiocruz.br/transf.php?script=thes_thesislist&id=FIOCRUZENSP&lng=pt&nrm=iso
http://www.psy.med.br/textos/index.htm
http://www.scielo.org/php/index.php