
Oswaldo Montenegro
Composição: Oswaldo Montenegro
Um universo de barulho e silêncio.
Panela de Feijão
Maria é uma doce menina que divide apartamento comigo há uns 6 meses. Na quinta-feira passada ela resolveu colocar para cozinhar em uma enorme panela: Feijão. quando pensou em fazê-lo pensou em seu namorado, às vezes ele vem jantar aqui em casa. Bom, a questão foi que ela fez o tal feijão, eles jantaram e a panela com a metade de todo aquele feijão ficou esquecida por dias em cima do fogão. Devido ao seu esquecimento, ativei a sua memória após aqueles dias suportando o cheiro que começou a se alastrar pela cozinha. Lembrei agora também que eu não mencionei que a Maria não gosta muito dos serviços domésticos, ou melhor qualquer coisa que mereça assim tipo de esforço físico tremendo. Então, quando a situação da panela de feijão ficou crítica mesmo e ela teve que colocar a mão na massa...ah, esqueci também de mencionar que a Maria também destesta coisas muito nojentas, tipo vômito, clara de ovo, gozo e tal. O fato foi que ela teve que colocar a mão na massa, jogar fora os caroços e o caldo de feijão estragado da panela. Pela sua descrição desse evento que era a mesma da minha imaginação ficou muito claro todo o seu sofrimento ao ter que colocar todos aqueles grãos podres com todo aquele caldo esverdeado e espesso dentro da lata de lixo. Na simples responsabilidade daquela ação o que prevaleceu foi apenas o seu repúdio e o seu nojo desmedido. Em seu relato absurdamente carregado de raiva até recordações familiares vieram à tona. As frases da sua cruel história eram: Eu não preciso lavar essa panela de feijão, nunca fiz isso na minha casa. Que ódio que eu tenho dessa panela de feijão, que ódio do meu namorado por ele querer jantar e eu ter que fazer feijão. Nunca mais faço feijão. O show foi grande e a raiva também. só vendo pra saber.
Bom, se você não entendeu esse deseperdício e a doce Maria ficando puta da vida por causa de um simples esquecimento de uma panela de feijão podre no fogão eu confesso que também fiquei meio chocada. Mas, resolvi pensar da seguinte forma e ouvir da seguinte maneira esse relato: É difícil direcionar a raiva quando não sabemos de onde ela vem. O mais fácil é elaborá-la e denominá-la: feijão.